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quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Doar O Sangue Do Cordão Umbilical – Um Ato Humanizado


Por: MARCELLY CACHO GUIMARAES
DOAR O SANGUE DO CORDÃO UMBILICAL - UM ATO HUMANIZADO

Todos os anos, milhões de crianças nascem em todo mundo. Para os pais, amigos e familiares é uma felicidade, pois trata-se de um novo ser humano. Este ser poderá trazer muitas alegrias, perpetuando a espécie humana. Entretanto, um detalhe importante muitas vezes é esquecido.Trata-se do cordão umbilical, um importante recurso que pode ser aproveitado para salvar vidas.

Quando tudo começou...

O ano é 1988. No Hospital Saint-Louis, em Paris, a médica francesa Eliane Gluckman tem uma decisão difícil para tomar. Um de seus pacientes está com anemia de Fanconi. Sem tempo de encontrar um doador de medula óssea compatível, ela resolve, pela primeira vez no mundo, segundo a literatura científica, introduzir células-tronco do cordão umbilical da irmã do doente para tentar barrar a doença. O resultado é excelente. No lugar das células-tronco da medula, o mesmo efeito foi conseguido com sangue e o material celular do cordão umbilical.

A partir da experiência, a utilização de células-tronco do cordão umbilical humano passou a ser uma alternativa bem mais viável do que o uso de células retiradas da medula óssea. O problema é que bancos públicos com esse tipo de sangue são raros.

Entendendo melhor

Células-tronco são células mestras que têm a capacidade de se transformar em outros tipos de células, incluindo as do cérebro, coração, ossos, músculos e pele. Ela pode se diferenciar e constituir diferentes tecidos no organismo. Esta é uma capacidade especial, porque as demais células geralmente só podem fazer parte de um tecido específico (por exemplo: células da pele só podem constituir a pele).As células-tronco também podem gerar cópias idênticas de si mesmas. Essa capacidade chama-se auto-replicação.Por essas razões, as células-tronco são objetos de intensas pesquisas. No futuro, a previsão é que se possa usar para substituir tecidos lesionados ou doentes, como nos casos de Alzheimer, Parkinson e doenças neuromusculares em geral, ou ainda no lugar de células que o organismo deixa de produzir por alguma deficiência, como no caso de diabetes.

Como é feita a doação

A doação pode ser realizada de três formas diferentes: 1. Doação voluntária para o Banco, sem custo para a família, sendo que as células ficarão disponíveis para qualquer pessoa que necessite. 2. Doação quando há, comprovadamente, um parente compatível que apresente doença que necessite de um transplante de medula óssea. Neste caso, também não há custo para a família. 3. Coleta de SCUP e armazenamento com o objetivo de atender, exclusivamente, à própria família. Embora o Banco de Sangue de Cordão Umbilical do INCA não realize este tipo de coleta, existem centros que executam a coleta privada, devendo os custos serem cobertos pela família.

A coleta e o armazenamento

O material a ser armazenado deve ser retirado do cordão umbilical porque o sangue do cordão umbilical é rico em células-tronco. A coleta do material é feita de maneira tranqüila, sem riscos para a mamãe nem para o bebê e pode ser feita tanto em parto normal, quanto em parto cesariana. Após o nascimento, o cordão umbilical é pinçado e cortado, interrompendo a ligação entre o bebê e a placenta. A quantidade de sangue (de 70 a 100 ml) que permanece no cordão umbilical é, então, coletada, congelada e posteriormente armazenada em tanques de nitrogênio líquido a -190º C. O processo só pode ser feito com a autorização da mãe. O tempo máximo entre a coleta e o armazenamento não deve exceder 48 horas.

De acordo com a ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária, antes da estocagem, deve-se realizar o controle de qualidade que inclui: exames sorológicos para doenças infecciosas transmissíveis pelo sangue e doenças genéticas, verificação de contaminação bacteriana e/ou fúngica, contagem e viabilidade celular. Também são armazenadas alíquotas do sangue da mãe para testes futuros.As unidades são triadas para algumas doenças infecciosas, incluindo HIV (AIDS), hepatite B e C, doença de Chagas, sífilis, vírus HTLV, entre outras.No caso de doação para bancos públicos, ou indicação de uso aparentado (dentro da própria família), realiza-se também a tipagem HLA.Ainda segundo a ANVISA, para que a amostra de sangue de cordão umbilical a ser armazenada seja clinicamente útil, frente às possibilidades terapêuticas atuais, esta deve conter um número mínimo de células. Esta é uma exigência técnica e legal, portanto, as amostras que apresentarem baixa celularidade devem ser descartadas. Também deverá ser descartada quando apresentar contaminação microbiológica ou fúngica.A mamãe pode optar por empresas particulares ou por Bancos Públicos que fazem parte da BrasilCord.Para participar do programa de Banco Público, basta a gestante sinalizar ao médico obstetra o interesse em doar o cordão umbilical do bebê para que esse possa dar andamento em todo o processo que envolve a realização de exames prévios, além de avaliação para ver se a mãe se enquadra no perfil. Para doar a gestante precisa ter menos de 37 anos, cujo bebê venha a nascer com idade gestacional igual ou maior que 35 semanas e peso maior que 2kg.Já para o armazenamento em Banco Privado é necessário entrar em contato com a empresa escolhida pelo menos 24h antes do parto. Muitas empresas atendem mesmo sem ainda ter assinado o contrato. Para o procedimento para uso autólogo, a gestação precisa ter acima de 32 semanas e não há limite de idade para a gestante. No momento da coleta, o sangue materno também é colhido para a realização de exames.Atualmente, as pesquisas demonstram que o sangue pode ficar armazenado por, no mínimo, 20 anos e manter a integridade celular.

O que é Rede BrasilCord?

É a Rede Nacional de Bancos Públicos de Sangue de Cordão Umbilical e Placentário para Transplante de Células-Tronco Hematopoéticas. Criada em 29 de setembro de 2004 através da Portaria N°. 2.381/GM, essa Rede pública é formada pelos Bancos de Sangue de Cordão Umbilical e Placentário - BSCUP já existentes e em operação no Instituto Nacional do Câncer - INCA/Rio de Janeiro e no Hospital Israelita Albert Einstein - HIAE/São Paulo, e pelos demais BSCUP que vierem a ser implantados, com base nas necessidades epidemiológicas, na diversidade étnica e genética da população brasileira e segundo critérios a serem estabelecidos pelo Ministério da Saúde.Afiliado ao BrasilCord está o RedeCord, primeiro Banco Público de sangue de cordão umbilical do Estado de São Paulo.

Por que doar o sangue do cordão umbilical?Ao doar o sangue do cordão umbilical, você ajuda a salvar a vida das pessoas que ano a ano precisam de um transplante de medula e não encontram doador compatível.

A doação é gratuita, mas, diferentemente do que ocorre nos bancos privados, nos públicos há mais restrições para as mulheres que desejam armazenar o sangue do cordão de seus filhos. Só podem fazer parte do projeto mulheres entre 18 e 36 anos, com idade gestacional acima de 35 semanas no momento da coleta, que não apresentem gravidez de risco e que não possuam no histórico médico doenças neoplásicas (câncer) ou hematológicas (anemias hereditárias, por exemplo). Grávidas de múltiplos também sofrem restrições, pelo volume de sangue do cordão de cada bebê ser menor.


Fonte:
INCA-Instituto nacional do câncer
Jornal da UNICAMP
Site : WWW.Brasilescola.com.br